DO SENTIDO DADO AOS PASSOS, AOS PASSOS QUE NOS CONSENTIMOS DAR... JAMAIS OS MESMOS DEPOIS DE TRILHAR O DESERTO BRANCO

05
Nov 08

 

Por isso encontrei fósseis de conchas nas areias do Deserto Branco, onde cheguei faz hoje um mês.

 

publicado por fpg às 02:28

22
Out 08

Será possível?

Não sei o que se passa comigo ou, melhor, sei bem demais, mas é de tal modo insólito que me sinto atónita...

Será que podemos apaixonar-nos (com um Amor daqueles que nos perturba o sono, nos faz felizes, nos faz sonhar, nos dá vontade de reviver momentos inesquecíveis) por um deserto?!

Não, não fiquei apanhada pelo clima porque o calor não era abrasador...

Será que nas várias formas de que a Natureza se reveste também podemos ter uma alma-gémea?

 

 

Gosto muito do mar, fiquei deslumbrada, extasiada mesmo, com algumas das paisagens do Tibet, mas o Deserto Branco invadiu-me o coração e não deixou nenhum cantinho vazio. E nem estamos em fase de cheias do Nilo...

Só sinto que tenho de lá voltar.

Não me canso de olhar as fotografias que como que trazem mel para dentro de mim.

Tenho saudades daquela comunhão silenciosa, daquelas dezenas de quilómetros de deslumbramento em que, a cada passo, o olhar descobria uma nova beleza.

 

 

Tudo o que recordo faz com que a respiração no meu peito nunca mais tenha sido igual desde o dia em que parti.

Tenho saudades.

Tantas que provocam dor.

Só quem lá esteve poderá compreender o que sinto.

*Théodore Monod, um homem que viveu o Deserto como poucos, testemunhou em "A Esmeralda dos Garamantes"/L' Émeraude des Garamanthes:

 

 "Não, não é agradável [...] os salpicos da regurgitação do camelo, a comichão da carraça nas calças, a água salobra, a comida com areia, as noites ventosas. Os desconfortos desta vida são muitos.[...]
A paragem do meio-dia é tórrida? Este vento diabólico? [...] Não te queixes. Suporta. Tem paciência. Cerra os dentes. A vingança virá mais cedo ou mais tarde.
De resto conheço-te bem. Quando ela vier, essa vingança tão esperada, quando te deitares, saciado, com iguarias delicadas que não te estalaram sob os dentes, saciado com uma água incolor, sem pêlos de bode, numa cama de sibarita, sob um tecto, no quente, então, em vez de saboreares de forma duradoura a tua felicidade, muito rapidamente, assim que o grande cansaço das tuas caminhadas solitárias estiver esquecido, então começas a sentir falta das tuas rudes etapas, dos teus pés escalavrados, dos teus lábios gretados, dos teus sonos enroscado sob as estrelas.

E, na primeira oportunidade, tal como eu, voltas a partir..."


 

Non, ce n' est pas agréable [...] les éclaboussures de régurgitat camelin, le rostre de la tique dans ta culotte, l' eau saumâtre, les gruaux sablés, les nuits venteuses. Les désagréments de cette vie sont copieux. [...]
La halte méridienne est torride? Ce vent diabolique? [...] Ne te plains pas. Supporte. Patiente. Serre les dents. La revanche, tôt ou tard, viendra.
D' ailleurs, je te connais bien. Quand elle sera venue, cette vengeance tant esperée, quand tu coucheras, rassasié de mets délicats qui n' auront pas craqué sous la dent, désaltéré d' une eau incolore, sans poils de bouc, dans un lit de sybarite, sous un toit, au chaud, alors, au lieu de savourer durablement cette félicité, très vite, dès que la grosse fatigue de tes marches solitaires sera oubliée, alors tu te prendras à regretter tes rudes étapes, tes pieds écorchés, tes lèvres éclatées, tes sommeils recroquevillé sous les étoiles.
Et, à la premiére occasion, comme moi, tu repartiras...

 

 
 
E eu nem tive muito frio, não fiquei com os pés em ferida...
Tenho é a alma em ferida.
Não queria ter saído de lá...
 
 

 

*Tirado de Mochila às Costas 


16
Out 08

De volta a casa, após ter vivido as melhores férias da minha vida, estou com cabeça e coração completamente inundados de Egipto e Deserto Branco, como se o Nilo mos tivesse invadido de enxurrada à qual fiquei passivamente a assistir, sem esborçar qualquer movimento de resistência.

É estranho... ao chegar à Grécia o deslumbramento foi, de imediato, absoluto!

Como já disse algures, senti como que um retorno ao ventre materno, uma identificação total com os locais, os cheiros, a luminosidade, a beleza dos monumentos...

No Egipto tal não aconteceu.

Acho que o estado de choque em que fiquei com a quantidade desmesurada de turistas em que constantemente tropeçava, me impediu de me render...

E nem era época alta.

A imagem que tive foi a de uma baleia a desovar, mas partindo-se do pressuposto que ela estaria cheia de ovas do tamanho das das espécies de peixes pequenos.

Pois, as baleias não desovam, não são peixes...

Era gente por todos os lados; gente preocupada em posar em frente aos monumentos, nos sítios... não sinceramente interessada em vê-los. É, olhavam-nos mas não os viam, nem os sentiam.

Passavam neles com tal velocidade que, em comparação, a  "rapidinha à coelho", parecia uma maratona.

Isto aconteceu principalmente em Luxor, o meu porto de chegada. Em Edfu e em Kom Ombo.

A partir de Assuão começou a esbater-se; em Abu Simbel o panorama não foi desesperante.

No Cairo, felizmente, também não, apesar de se entrar em semana final de Ramadão.

Em Alexandria, poucas pessoas estariam dentro de casa... O fim do jejum, da abstinência, transformaram as ruas num quase carnaval.

E depois de tudo isto, veio a paz indescrítivel do Deserto Branco.

Eu sabia que não iria ficar-lhe indiferente.

Mais jamais pensei que o efeito fosse este...

Senti-me transportada para outra dimensão, para um espaço algures não no mundo.

Nunca na vida senti nada assim.

Vagas de paz, de tranquilidade, de comunhão com aquela beleza única continuam, ainda, a rolar dentro de mim.

O Deserto é único.

Uma experiência inesquecível.

Agora, sei por onde começar:

Por Luxor, pelo Vale dos Reis, pelo dia 21 de Setembro, cerca das 5h30 da madrugada.

 


15
Out 08

O passo consentido tomou um outro rumo.

Em casa nova, a partir de hoje, por um caminho que após as férias de sonho que tive no Egipto, terá matizes e sons diferentes... quentes e silenciosos, como as vertiginosas torrentes de paz que, naqueles dias, me inundaram e fizeram rodopiar num torpor de Felicidade. 

publicado por fpg às 16:31

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