DO SENTIDO DADO AOS PASSOS, AOS PASSOS QUE NOS CONSENTIMOS DAR... JAMAIS OS MESMOS DEPOIS DE TRILHAR O DESERTO BRANCO

24
Mar 06

Acabei há pouco de ler este livro, no original The Intelligencer.
Mais um romance histórico passado entre o século XVI e os nossos dias... aliás tão actual que já é posterior à invasão do Iraque.
Gostei bastante do enredo porque está escrito de uma forma absorvente, interessante e com muito detalhe e informação precisos.
Só poucos personagens do século XVI são fictícios.
O mais importante, um dos protagonistas, é Christopher Marlowe, contemporâneo de Shakespiere. Aliás nas notas finais, Leslie Silbert destaca, entre outros, o facto de haver quem defenda a teoria de que ambos os escritores teriam sido uma única e mesma pessoa.
Porque a obra é fruto de um trabalho detalhado e rigoroso, que admirei, e uma vez que não nos é dada qualquer referência biográfica sobre a autora resolvi descobrir mais e fui a www.lesliesilbert.com.
E o que fiquei a saber fez-me perceber que os estudos na área da História e a opção pela carreira de investigadora (detective) estão absolutamente reflectidos no livro, ou que este é o espelho da sua vivência e das suas opções. E curioso é o facto de Leslie ter optado por um tipo de profissão de emoção e risco se dever à influência do personagem a cujo estudo dedicou tanto do seu tempo, porque Kit Marlowe para além de escritor era espião a soldo de fações opostas o que, provavelmente, lhe terá custado a vida (é sempre complicado querer estar bem com Deus e com o Diabo...).
Quem quiser, antes de ler o livro, ficar com uma ideia mais real dos enquadramentos físicos que serviram de inspiração à escritora, pode aceder à gallery e ver as fotografias que lá estão e que se destinam a ilustrar cada capítulo. E tem a vantagem de não ser como ver um filme e só depois ler o livro (sabendo antecipadamente o fim da história). Dá para manter a emoção da surpresa até à última página.
Gostei e recomendo.
Apenas um alerta: infelizmente a versão portuguesa tem uma tradução/revisão péssimas com incongruências inaceitáveis e imensos erros ortográficos (não decorrentes do Acordo Ortográfico), que quebram um bocado o ritmo da leitura. Esperemos que a próxima tiragem tenha mais qualidade.
publicado por fpg às 15:43

17
Mar 06
Mary, Fevereiro 2006

Creamy, Março 2006

Para além de cinco cães que são meus, tenho em casa mais cinco protegidos pela associação que, com outras pessoas, criei há pouco mais de dois anos.
Nove machos e uma fêmea.
Como já há, todos os dias, animais abandonados em demasia, todas as semanas animais abatidos em demasia, temos seguido o critério da esterilização, para evitar uma indesejada avalanche reprodutora.
Por sobrecarga do canil municipal onde tem de ser obrigatoriamente operado, porque foi de lá que o tirei em Novembro, quase a morrer, o Creamy (cruzado de Glen of Imaal Terrier) ainda não foi castrado...
Porque não se sabe ao certo que idade tem, se já teria ou não tido dois cios (segundo algumas teorias a fase ideal para uma fêmea ser esterlizada) a Mary (uma Teckel) também ainda não foi operada.
E para me trocar as voltas, ou talvez como homenagem ao Dia da Internacional da Mulher (who knows?), a Mary ficou saída nesse dia. Mas o único que parecia dar conta disso era o Taco (outro Teckel), o inseparável amigo da Mary. Mas dali não viria mal ao mundo!
Imaginem qual não foi a minha incredulidade quando ontem de manhã, ao ser acordada por uns latidos, vou dar com a Mary e o Creamy no meio das escadas (vivo numa vivenda - sim caso, contrário seria impossível ter uma matilha tão grande...), colados (na verdadeira acepção da palavra)! Passado um bocado lá conseguiram descê-las... colados!
Com esperança de que, como tinha sido a primeira vez (lá se foram dois virgens!), talvez não houvesse consequências, foi posto à Mary uma espécie de cinto de castidade canino, que comprei a semana passada mas que, porque a magoava e acabava por deixar a descorberto a zona anatómica que era fundamental estar tapada, não se lho punha muitas vezes... A chatice é que o dito cinto se revelou pouco eficaz porque continuava a não tapar o sítio certo... Resolvi então adaptar umas cuecas... foram roídas.
Mas para meu descanso, quando acordei de manhã a Mary continuava deitada ao meu lado. Uff! Vão ter de estar separados estes dois dias...
Voltei, por pouco tempo, ao mundo de Morfeu tão meu querido. De repente acordei com uns latidos... recordações da manhã anterior? Não!!! Lá estavam eles, desta vez lá em baixo.
E agora?
Acho que vou passar os próximos dois meses a tentar adivinhar como serão os rebentos de tal cruzamento...

publicado por fpg às 16:36

Éfeso, Agosto 2001


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade


A leitura foi o meu primeiro hobbie.
Assim que aprendi a ler, fiquei fascinada pelo mundo que, através da leitura, ante mim se abria.
Adorava que me oferecessem livros e sempre que me davam dinheiro ia logo gastá-lo em livros.
Muitos foram os dias de férias em que fiquei em casa embrenhada na leitura.
Com o passar dos anos ao olhar para as prateleiras repletas com os meus livros, sentia-me rica.
A escrita foi das mais revolucionárias descobertas da Humanidade e os livros são dos mais importantes legados que uma geração pode deixar para as que se lhe seguem.
É por isso que se considera que a “História Começa na Suméria”, o povo cujos testemunhos escritos são, até hoje, os mais antigos de que há conhecimento; na verdade os sumérios legaram-nos a escrita cuneiforme, e através dela a possibilidade de melhor conhecermos e entendermos a sua civilização.
E se a escrita foi, com toda a certeza, criada por necessidade depressa terá sido aproveitada para dar voz às emoções, às aspirações e aos sonhos mais profundos de muitos escritores e poetas...
Para mim a leitura sempre foi uma forma de descontracção e, gradualmente, de enriquecimento.
Sempre li mais prosa do que poesia, apesar de haver alguns poetas por quem tenho grande admiração - Sophia de Mello Breyner Andresen e Eugénio de Andrade. A sua poesia fascina-me e faz-me sofrer... Que privilégio saber dizer tanto com, por vezes, tão poucas palavras.
O reino da palavra é um reino encantado e conseguir, através da poesia ou da prosa poética, comunicar tudo o que sentimos, o que pensamos, o que apreendemos da realidade é algo especial e não privilégio de todos...
Hoje em dia existem imensas pessoas a escrever prosa e poesia mas os verdadeiros escritores e poetas são uma minoria!
Nem todos conseguem com a simplicidade Eugénio de Andrade dizer algo de tão profundo como “Com Palavras Amo” ou “Cada bago de uva sabe de cor / o nome de todos os dias do Verão”... ou ainda “Chove, é o deserto, o lume apagado, / que fazer destas mãos cúmplices do sol?”
Ou como Sophia “As ondas quebraram uma a uma / Eu estava só com a areia e com a espuma / Do mar que cantava só para mim.”
A mulher que, numa reflexão sobre a sua condição de poetisa, diz “Quem como eu em silêncio tece / Bailados, jardins e harmonias? / Quem como eu se perde e se dispersa / Nas coisas e nos dias?” ou ainda, quando pensando na morte, escreve “Quando eu morrer voltarei para buscar / Os instantes que não vivi junto do mar”, o mar cujo impacto transparece em toda a sua obra.
A poetisa, em alguns textos sobre a Arte Poética, dá o seu testemunho de vida, da forma como ainda criança (tão nova que pensava que os poemas não eram escritos por pessoas) começou a ter sensibilidade para a poesia, porque antes de saber escrever já ouvia e recitava de cor poemas como a Nau Catrineta.
E como a preparação e a sensibilização das gerações futuras está nas mãos das que as antecedem, o testemunho de Sophia teve grande impacto em Miguel Sousa Tavares que, como “filho de peixe...”, escreve textos com uma simplicidade e com uma profundidade impressionantes. Ao lê-los quase sentimos as texturas, os cheiros... quase escutamos os sons... ou o silêncio...
Aprendamos com o seu exemplo! Fomentemos cada vez mais naqueles que se nos seguirão o prazer da leitura, o prazer da escrita, o saber ouvir...
Assim crescerão mais enriquecidos, com maior sensibilidade, olharão melhor o “outro” e o mundo que os rodeia.
Por isso gostaria de ser como os poetas...

publicado por fpg às 14:33

15
Mar 06
Festival de Ura, Butão, Abril 2002

Nos últimos meses a minha vida andou aos altos e baixos. Com muita emoção e, também, com alegria, esperança, sonhos, muitos...
E depois com tristeza, desapontamento, incredulidade.
Durante esse tempo talvez tenha sonhado mais acordada do que a dormir, porque paz interior era, então, inviável...
Depois veio a fase em que até dormir era difícil, em que adormecer custava, em que o despertar repentino, sobressaltado, pouco tempo depois, era um desespero...
Porque ficava acordada até o dia nascer, mais um esvaziado de sentido... em que só me apetecia hibernar.
Queria poder abrir a cabeça e retirar algumas ideias fixas de que não me conseguia libertar e que como que me asfixiavam... era mesmo essa a sensação, de asfixia e de impotência por não ter forças para dar a volta.
Mas o tempo é um ajudante precioso... há que deixá-lo passar. Algum passou...
E eu voltei a sonhar! A sonhar a dormir!
Voltei a encontrar a paz interior que me permite ler e gozar o meu espaço, a minha casa, os meus cães, os meus projectos.
A vida tem de novo cores e os meus sonhos são a cores.
Há quem só consiga sonhar a preto e banco. Eu acho que sonho sempre a cores! Uma sorte! Talvez porque preciso de cor na minha vida.
Porque prefiro fotografias a cores, cores puras, misturadas, vertiginosas...

publicado por fpg às 10:50

06
Mar 06
Yubeng, Abril 2006


Enquanto preenchia os detalhes para a abertura deste blog recebi um telefonema - umas amigas estavam num canil a adoptar um golden retriever que lhes sugeri...
Encantadas com a doçura do olhar, com a meiguice que transborda de toda a postura de um cão que, como tantos outros, se viu de repente rejeitado.
Como os animais não falam não sabemos a sua história, o que de bom ou mau lhes aconteceu. Para muitos, quero acreditar que tal é verdade, a vida pós-adopção é sempre melhor do que a que ficou para trás.
Para quem adopta e para os animais que são adoptados a vida passa/volta/tem um novo sentido.
Falo com conhecimento de causa; graças aos cães que "entraram" na minha vida transformei um sonho em realidade, conheci pessoas maravilhosas e também alguns estupores.
Tudo ganhou um novo sentido.
Pode ser que o mesmo aconteça com este blog. Adoro ler, adoro escrever, se bem que nos últimos anos leio muito e escrevo pouco. Assim, lancei-me este desafio.
Para desemperrar e não embrutecer.

publicado por fpg às 17:50

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